01 março 2008

Síndrome de Burns, você precisa aprender a lidar com isso.

"Já bati de frente e não tive bons resultados", diz Ana C. Rossi, do Submarino, Conviver com um chefe que não ouve, não ensina e nunca diz para onde caminha o negócio é uma situação recorrente no mercado de trabalho. Quem nunca se sentiu diminuído, injustiçado ou simplesmente ignorado pelo seu superior, pelo menos uma vez, que levante a mão.Essas poderiam até ser situações do passado diante de um mundo corporativo redesenhado pela tecnologia, onde os profissionais têm mais liberdade e se orgulham em dizer que dirigem a própria carreira. Mas não são.Pesquisa realizada pela rede de network "To the Top" , com exclusividade para o Valor , mostra que o relacionamento com os chefes continua difícil, apesar das recentes mudanças no mundo do trabalho.

Mais da metade dos 254 participantes afirmaram já ter pensado em mudar de emprego por problemas com a chefia. E a maior crítica em relação aos superiores é sobre o feedback.
Quem trabalha quer saber se o que está fazendo faz sentido na empresa, quer incentivo, motivação.

O levantamento reuniu o depoimento de profissionais de diversos setores, 61% com idades entre 25 e 34 anos, 33% gerentes, 31% analistas, 13% coordenadores ou supervisores, 11% consultores e 6% diretores e presidentes. Todos atuam em grandes empresas nacionais e multinacionais como a Philips, Embratel, Citibank, Merrill Lynch, Bayer, AGF Seguros, Visanet, Ford, Claro, Unilever, entre outras.Dos participantes, 39% se reportam ao diretor, presidente ou sócio da companhia e 28% ao gerente de departamento. Apesar de 26% dos pesquisados terem afirmado ter o melhor relacionamento possível com o chefe, 61% disseram que já pensaram em mudar de emprego por causa da chefia e 10% afirmaram ter tido problemas sérios com o chefe imediato.William Salomão Junior, 37 anos, gerente de negócios da Ticket Serviços, é um que diz estar hoje plenamente satisfeito com o relacionamento que mantém com seu superior. Mas, ele vive essa calmaria há apenas alguns meses. Antes, passou por maus momentos com um outro chefe."Eu tinha vontade de mudar de emprego, mas sabia que ele acabaria se dando mal porque não se encaixava mais no perfil de profissional que a empresa queria", lembra. Junior percebia sinais de que aquela situação não se sustentaria por muito tempo e, apenas por isso, aguentou firme. "Ele acabou indo embora naturalmente", diz.
Hoje Junior diz que seu chefe divide responsabilidades, pergunta a opinião da equipe, enfim, ajuda muito na motivação. "Os chefes mais admirados são os que também são percebidos como bons desenvolvedores de pessoas, motivadores e desafiadores", diz João Marcos Branco, coordenador da pesquisa e do "To the Top", grupo de discussão formado em 2001 e que hoje reúne 2000 profissionais de 850 empresas. "Existe também uma alta relação entre a motivação, o reconhecimento de bons desempenhos e a preparação para substituir o chefe no futuro".A questão da sucessão da chefia aparece na pesquisa como sendo um problema maior para a as mulheres. Apesar das respostas indicarem que elas têm um relacionamento suavemente melhor com seus chefes do que os homens -35% acreditam que seu potencial é bem explorado e 48% dizem que nunca pensaram em mudar de emprego por causa do chefe- a maioria sente que não está sendo preparada para substituir seus superiores.Ana Cristina Rossi, 27 anos, assistente comercial do Submarino, acredita que essa preparação para a sucessão é ainda mais complicada quando a chefe é mulher. "A disputa é mais acirrada, entra a vaidade e questões como: será que se ela subir eu subo também?", diz.Formada em administração com ênfase em comércio exterior, ela está há quase seis anos no mercado. Nesse tempo, ela diz ter aprendido que é preciso conhecer traços da personalidade do chefe para desenvolver um bom relacionamento.

Estar atento a hora certa para falar, não interromper um momento de análise de seu superior, segundo Ana, são dicas que podem ajudar na construção de uma boa relação. "Já bati de frente e não tive bons resultados, agora já sei como lidar. Uso artimanhas para não ser mal interpretada", diz. "Sei que o profissional e o pessoal andam lado a lado".Vários estudos já mostraram que as relações pessoais imperam no mercado de trabalho brasileiro. Isso acaba atrapalhando o feedback, uma das maiores críticas dos entrevistados aos seus superiores. "O chefe tem pudor em fazer críticas para não criar um clima pessoal", diz Patrícia Pimenta Fernandes, 37 anos, supervisora de planejamento da McCann Eriksson. "O feedback às vezes tem que ser arrancado".Outro problema apontado por Patrícia, que incomoda boa parte dos subordinados, é a centralização das decisões e informações. "O chefe inseguro em relação ao grupo centraliza e acaba assoberbado, perdido no operacional e sem tempo para ter uma visão mais macro do negócio", acredita.

"Existe uma grande diferença entre você orientar e fazer o trabalho". Para ela, o equilíbrio é a melhor solução para os dois lados. Sem esta percepção, o profissional júnior acaba sem aprender, não cresce e o sênior dedica menos espaço do seu dia-a-dia ao gerenciamento de atividades que realmente interessam.O que os profissionais esperam do chefe além de dividir mais responsabilidades é que ele saiba explorar ao máximo as suas habilidades. Pelo menos 67% dos entrevistados acham que poderiam ser mais motivados e desafiados pelos chefes. Simone Mota Garcia, 43 anos, gerente do departamento jurídico, da Nestlé Waters, acredita que essa falta de incentivo pode levar a uma queda na auto-motivação do funcionário. Ela acredita que cabe ao próprio empregado então buscar o ânimo necessário para produzir mais e se preparar para o mercado.Simone sempre buscou oportunidades sozinha. Formou-se em direito, fez pós-graduação na área tributária, MBA em direito empresarial e outros cursos de especialização. Hoje ela serve de exemplo as estagiárias que se reportam a ela. "Eu sempre aconselho elas a não pararem de estudar", diz. Quando trabalhou na IBM, Simone teve como mentora a chefe do departamento fiscal da companhia. "Um bom chefe pode ajudar a mudar a carreira de alguém para melhor", diz.No geral, os chefes mais admirados, segundo a pesquisa, são os que ocupam cargos de diretores ou presidentes. "Eles são vistos como melhores 'desenvolvedores' de pessoas, dão mais feedback", diz João Marcos Branco, coordenador da pesquisa.A única ressalva é que eles não sentem que estão sendo preparados para substituí-los. Já os gerentes de grupos de departamentos têm as piores avaliações dos subordinados. "São os que cobram de maneira mais constrangedora e que mais fazem os empregados quererem mudar de emprego", diz Branco. Eles não são vistos como bons exemplos e aparecem como os que menos reconhecem e valorizam seus subordinados.
Por outro lado, os gerentes de departamento são "amados" ou "odiados", na mesma proporção. Eles são vistos como sendo mais centralizadores, os que mais "escondem" o trabalho dos funcionários e os que menos se preocupam com feedback.Ao mesmo tempo, quem gosta deles, acredita que eles sabem explorar melhor o potencial de seus empregados do que os gerentes de grupo de departamento. E, apesar de todas as críticas, 37% de todos os entrevistados acreditam que seus chefes são um exemplo a ser seguido contra apenas 6% que os consideram péssimos.

Um abraço a todos.