30 setembro 2007

Destinos

Paulo Sant'ana

A saga dos geminianos
Sou geminiano. E nós, geminianos, somos seres muito especiais.Orgulhamo-nos de que são ou foram geminianos Chico Buarque de Holanda, Garcia Lorca, Fernando Pessoa - o mais geminiano de todos os geminianos, usou uma dúzia de heterônimos - , Marilyn Monroe, Paul McCartney, Jean-Paul Sartre, John Kennedy, Machado de Assis, Che Guevara, Bob Dylan, Miles Davis.Um time de respeito.
***Uma característica básica dos geminianos é que nascemos para sermos reféns.As pessoas nos amam, mas agem conosco como se nos odiassem. Da mesma forma, nós começamos amando e logo em seguida ficamos definitivamente aprisionados a tudo e todos que odiamos.Os geminianos se deixam escravizar com extrema facilidade. Porque nós disputamos com os ingênuos a supremacia da bondade e com isso nos tornamos presas fáceis logo após a aproximação.
***Os geminianos não gostam de ficar em casa à noite, mas logo em seguida aparece alguém em suas vidas, escalado para obrigá-los a não sair para a rua.Os geminianos detestam qualquer compromisso e por isso nutrem medo pânico por formar família. Esse receio parece que os atrai terminantemente para o meio familiar, nunca mais se livrando dos tentáculos da afetividade, restando pregados para sempre às cruzes do sentimentalismo.
***Forçoso é reconhecer que os geminianos são dados a trair, faz parte da sua herança genética a pluralidade amorosa. Seus corações têm catedrais imensas, onde abrigam todos que se magnetizam com sua larga capacidade afetiva.Por outro lado, o inverso, os geminianos possuem uma invulnerabilidade para a traição. Ninguém tem coragem de ser infiel a eles, tão imensa é a sua capacidade de conquistar para sempre a quem por eles é tocado.Mas essa fidelidade tributa o geminiano com pesados impostos de submissão, tão terríveis que talvez tivesse sido melhor para ele ter sido atingido pela traição, desde que isso significasse o que mais almeja o geminiano, a liberdade, benesse obviamente inatingível para ele.
***São assim os geminianos, suas atribulações são devidas a que eles não sabem ser competentes para traduzir em gestos, ações e palavras o quanto se atiram a abnegados esforços de amor e amizade, o que inspira fatalmente os outros à desconfiança.Não é permitido aos geminianos serem felizes. Haverá sempre dedos acusadores a apontar para eles, o que lhes causa um desespero aterrador em face da consciência clara de que na maioria das vezes estão sendo injustiçados.Na verdade, a missão dos geminianos na Terra não é serem felizes, é fazer os outros felizes, embora estes assim nunca se considerem.


ZH - 30 de setembro de 2007

28 setembro 2007

Escolhas

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Vida no campus

Vista da biblioteca 4B da Unisinos
28.09.2007 - Sexta-feira - 13:00 - 24ºC

Uma vida no divã


Paternalismo? Não. Paquidernalismo, sim!

Duas palavras intrínsecas no Líder que alcança seus resultados: Atitude e Respeito.
Nossos filhos crescem olhando a nossas costas, nas empresas não é diferente. Uma equipe ou empresa cresce perfilada a seu líder, reflexo uno, com objetivos uno.

Os elefantes não caçam nem matam e, no entanto, sobrevivem há mais de 165 milhões de anos! Os elefantes são gigantes, mas pisam com cuidado. Fazem desvios ao seu caminho para não atropelar os outros e o lider da manada não desvia de seus objetivos mesmo que algum de seus integrantes lhe falte.
Em tempos de escassez de recursos, para vencer as dificuldades, os elefantes formam equipes para antecipar-se às mudanças.
Eleger o modelo de liderança do elefante é adotar o estilo das organizações do novo milênio, contudo, sem perder a digníssima orientação acadêmica de cada macaco no seu galho.
Apresento-lhes a Filosofia Paquiderme:
* Os objetivos podem ser atingidos com ética e em comunidade.
* Desenvolver uma cultura de equipe ajuda a atingir objetivos comuns.
* A comunicação e a partilha de informação são fatores críticos e garantem a coesão dos indivíduos e das equipes, particularmente em tempos difíceis.
* Valorizar os relacionamentos. Baseando-os numa liderança forte e preocupada com os outros é atuar no interesse das pessoas, das equipes, e da organização.
* Planejar antecipadamente o caminho a seguir e ponderar as estratégias que melhor sirvam a organização e as pessoas é assegurar a sobrevivência.
* Equacionar o fracasso e celebrar o sucesso, permite o desenvolvimento de uma visão de futuro, clara, definida e construída sobre o compromisso de todos.
Simples.
Um abraço a todos

26 setembro 2007

Quando os gigantes aprendem a dançar

Foi tudo muito rápido. O executivo bem-sucedido sentiu uma pontada no peito, vacilou, cambaleou, deu um gemido e apagou. Quando voltou a abrir os olhos, viu-se diante de um imenso portal. Ainda meio zonzo, atravessou-o e deu de cara com uma miríade de pessoas, todas vestindo cândidos camisolões e caminhando despreocupadas. Sem entender bem o que estava acontecendo, o executivo bem-sucedido abordou um dos passantes:

- Enfermeiro, eu preciso voltar urgente para meu escritório porque tenho um meeting importantíssimo. Aliás, acho que fui trazido para cá por engano, porque meu convênio médico é classe A, e isto aqui está me parecendo mais um pronto-socorro. Onde é que nós estamos?
- No céu.- No céu???- É.
- Tipo o quê, por exemplo? Tipo assim, céu? "O" céu, aquele? Com querubins voando e coisas do gênero? Que é isso amigo, você está com gozação?
- Aquele mesmo. Aqui todos vivemos em estado de gozo permanente.

Apesar das óbvias evidências (nenhuma poluição, todo mundo sorrindo, ninguém usando telefone celular), o executivo bem-sucedido custou um pouco a admitir que havia mesmo apitado na curva.Tentou então o plano B: convencer o interlocutor, por meio das infalíveis Técnicas Avançadas de Negociação, de que aquela situação era inaceitável. Porque, ponderou, dali a uma semana ele iria receber o bônus anual, além de estar fortemente cotado para assumir a posição de vice-presidente na empresa. E foi aí que o interlocutor sugeriu:

- Talvez seja melhor você conversar com São Pedro, o síndico.
- É? E como é que eu marco uma audiência? Ele tem secretária?
- Não, não. Basta estalar os dedos e ele aparece.
- Assim? (...)
- Pois não?



O executivo bem-sucedido quase desaba da nuvem. À sua frente, imponente, segurando uma chave que mais parecia um martelo, estava o próprio Pedro. Mas o executivo havia feito um curso intensivo de "Approach para Situações Inesperadas" e reagiu rapidinho:

- Bom dia. Muito prazer. Belas sandálias. Eu sou um executivo bem-sucedido e...
- Executivo... Que palavra estranha. De que século você veio?
- Do 21. O distinto vai me dizer que não conhece o termo "executivo"?
- Já ouvi falar. Mas não é do meu tempo.

Foi então que o executivo bem-sucedido teve um insight. A máxima autoridade ali no paraíso aparentava ser um zero à esquerda em modernas técnicas de gestão empresarial. Logo, com seu brilhante currículo tecnocrático, o executivo poderia rapidamente assumir uma posição hierárquica, por assim dizer, celestial na organização.

- Sabe, meu caro Pedro, se você me permite, eu gostaria de lhe fazer uma proposta. Basta olhar para esse povo todo aí, só batendo papo e andando à toa, para perceber que aqui no Paraíso há enormes oportunidades para dar um upgrade na produtividade sistêmica.
- É mesmo?
- Pode acreditar, porque tenho PhD em Reengenharia. Por exemplo, não vejo ninguém usando crachá. Como é que a gente sabe quem é quem aqui, e quem faz o quê?
- Ah, não sabemos.
- Headcount, então, não deve constar em nenhum versículo, correto?
- Hã?
- Entendeu o meu ponto? Sem controle, há dispersão. E dispersão gera desmotivação. Com o tempo, isto aqui vai acabar virando uma anarquia. Mas nós dois podemos consertar tudo isso rapidinho implementando um simples programa de targets individuais e avaliação de performance.
- Que interessante...
- Depois, mais no médio prazo, assim que os fundamentos estiverem sólidos e o pessoal começar a reclamar da pressão e a ficar estressado, a gente acalma a galera bolando um sistema de stock options, com uma campanha motivacional impactante, tipo "O céu é seu".
- Fantástico!
- É claro que, antes de mais nada, precisaríamos de uma hierarquização e de um organograma funcional, nada que dinâmicas de grupo e avaliações de perfis psicológicos não consigam resolver. Aí, contrataríamos uma consultoria especializada para nos ajudar a definir as estratégias operacionais e estabeleceríamos algumas metas factíveis de leverage, maximizando, dessa forma, o retorno do investimento do Grande Acionista... Ele existe, certo?

- Sobre todas as coisas.

- Ótimo. O passo seguinte seria partir para um downsizing progressivo, encontrar sinergias hi-tech, redigir manuais de procedimento, definir o marketing mix e investir no desenvolvimento de produtos alternativos de alto valor agregado. O mercado esotérico, por exemplo, me parece extremamente atrativo.
- Incrível!
- É obvio que, para conseguir tudo isso, nós dois teremos que nomear um board de altíssimo nível. Com um pacote de remuneração atraente, é claro. Coisa assim de salário de seis dígitos e todos os fringe benefits e mordomias de praxe. Porque, agora falando de colega para colega, tenho certeza de que você vai concordar comigo, Pedrão. O desafio que temos pela frente vai resultar em um turn-around radical.
- Impressionante!
- Isso significa que podemos partir para a implementação?
- Não. Significa que você terá muito futuro em nosso concorrente. Porque você acaba de descrever, exatamente, como funciona o Inferno.
- Hum?
- Deus lhe dê Paz, Saúde, Alegria e Amor!

E... vupt!

20 setembro 2007

Do sepulcro

Como dizem:

Se no derradeiro momento da morte, lembramo-nos de uma vida inteira passando diante dos olhos, talvez agora olhando a minha volta, reviva momentos que antes tenham passado despercebidos. Os ruídos não são mais os mesmos, a ausência é presente, e o silêncio ensurdecedor. Dos pensamentos que povoam minha mente, os que mais me subtraem, são a perda e a covardia. Confesso que não consigo nem mesmo explicá-los, o que resta são apenas estes pensamentos, e só.
E se tempos antes eu percebesse a sutil arte do ardil, em conceber planos que jamais seriam os seus, ou mesmo de outrem. E se na luta contra aqueles que acreditava ser meus inimigos, os tivesse acolhido e orientado, talvez, e digo apenas, talvez; houvesse uma chance.
Chances que já as tive, mas outros ainda não vislumbraram. Choro por eles e elas. Diferente dos felinos tenho 37 vidas, e sei o que passei em cada uma delas, dos detalhes que fizeram-me sobreviver e de outros tantos que arrancaram algo de mim. Do sepulcro, vejo a ressurreição logo adiante, mas me consumo pelos que deixo pra trás.

E de pedaço em pedaço continuo, na esperança de reparar em parte, aquilo que como coadjuvante permiti acontecer, sepultado vivo, cá estou, por mérito.
Contemplando o horizonte, mesmo sem o chão sobre meus pés, me senti mais confiante do que nunca, diante do oeste, mesmo sem um norte por vir, mas crente na fé e nas palavras dos que estão ao meu lado.
“Me he esmerado en no ridiculizar ni lamentar ni detestar las acciones humanas, sino en entenderlas.” Baruch de Spinoza

13 setembro 2007

Quando realmente acreditar ?

Da série: Divagações inúteis, pensamentos vazios e considerações sem sentido algum; intitulo este Post como: Quando realmente acreditar ?
Quando de fato podemos acreditar? Acreditar na idéia, acreditar na proposta, acreditar em alguém? Dissecar a acreditação, não é o objetivo deste comentário, mas destacar aqueles que de boa fé, desatam-se em uma energia vital dispensada com a finalidade de alcançarem o sucesso ou objetivo desejado.
No campo profissional, fatos como estes brotam as dezenas em um único dia de trabalho. Aquele que dissemina suas idéias procura sempre refúgio naqueles que dela possam se alimentar, ou ainda, as eleva a um grau de grandeza e notoriedade que por fim acabam por dar notoriedade a fatos do cotidiano com se estes fossem imprescindíveis para o todo.
“A persuasão é o eufemismo da enganação”. Roberto Feijó – 2007.
Mas se persuadir é uma forma elegante de enganar, por que alguns ainda tendem a acreditar?
Talvez sejamos eternamente esperançosos, a qualquer tempo, tornando-nos presas fáceis do acaso e de oportunistas, entre outros.
A frustração do sujeito ludibriado é por si mesma, óbvia e cruel.
sarcasmo
do Lat. sarcasmu
s. m.,
zombaria insultante; escárnio; ironia amarga, mordaz.

Para finalizar um último questionamento: Será o sarcasmo deste autor um meio de fuga?
Espero que novamente alguém me convença do contrário, embora, aquele que deseja ser convencido, convencido está.

Um abraço aos amigos.
foto: Tom Jobim, em um momento de sabedoria, que convecido, passei a acreditar.